sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Não me esqueça

Fazia um tempo que não o via a saudade já tinha começado a fazer chorar. Ficava a imaginar o que ele estava fazendo, onde e com quem. Perguntava-me se seria possível ele também estar pensando em mim enquanto o imaginava sem esquecer nenhum detalhe. Ele tinha prometido que ficaríamos juntos por muito tempo e eu acreditava nisso.



Não saía mais de casa, a vontade me faltava. Tudo que fazia era ficar na cama esperando a semana seguinte quando finalmente nos veríamos novamente. ''Vamos sair?'' ''Não.'' ''Ah, para. Tu não vai sair nunca mais?''  ''Eu vou sair sim, mas hoje eu não quero.'' ''E por que? Vamos.'' ''Não, sério.'' ''Não é tu que diz que temos que aproveitar como se fôssemos morrer amanhã?'' ''Mas...'' (Não me deixou completar a frase) ''Então, vamos.'' Nem me arrumei ao menos, vesti as roupas que estavam em cima da cadeira a dias. Saímos. Quieta durante todo o percurso. Meu amigo tentava me alegrar o tempo todo, até que me cansei de ficar daquele jeito e sorri. Sorria e ria com ele, estava agradecida. A volta para casa foi chuvosa, mas não nos importamos com aquilo. Queríamos limpar a alma. ''A sinaleira esta com defeito.'' ''Não vem nenhum carro.'' ''Dê-me a mão, vamos juntos.'' De mãos dadas atravessamos a rua. Ele um pouco mais a frente me puxava de pressa e por mais forte que tivesse segurando minha mão eu a soltei. Mas não foi porque quis, o carro me levou ao outro lado da rua, soltar a mão dele era preciso. A chuva havia parado de repente, e um fraco sol começava a brilhar. Meu amigo chorava e os bombeiros e familiares estavam a caminho. ''Pare de chorar, por favor.'' ''Tu esta quase a morrer.'' ''Então sorria, não quero morrer vendo o teu sofrimento.'' ''Desculpe-me, mas não consigo sorrir, irei me afastar um pouco.'' Minha mãe já havia chegado e soube que o que ainda me deixava viva era a pressão que o poste e o carro faziam sobre meu corpo. ''Mãe. Eu posso ter pedir algo?'' ''Claro minha amada, peça.'' ''Busque-o. Eu quero o ver pela última vez.'' ''Não filha, eu não vou sair daqui.'' ''Mãe, calma. Eu aguento. Tu não podes me negar isso.'' Minha mãe cedeu e foi. ''Moço, eu aguento por uma hora?'' ''Talvez.'' As pessoas se aglomeravam, os meus 15 minutos de fama estavam sendo dolorosos. O tempo passava devagar. Não conseguia mais... Finalmente ele chegou, os meus olhos brilhavam como se eu ainda estivesse viva. Havia morrido há quase um minuto atrás e pedi para que não fechassem meus olhos. Um pouco antes de desistir pedi para que escrevessem um bilhete que entregaram para o meu garoto. Ele, soluçando e com as lágrimas molhando o papel leu.

Querido. Eu queria que tu soubesses, por isso irei te dizer o que nunca tive coragem. Eu te amo. Ou melhor, amei.  Sim, amei de mais. Obrigada por cada pequeno momento. Sinto muito por não poder te beijar ou te olhar novamente, mas a dor era muito grande. Agora eu estou me sentindo fraca por não ter te esperado. Acho que estarei te olhando lá de cima. Se pudesse sentir minhas pernas, com certeza iria correndo ao teu encontro. Mas acho que elas nem minhas são mais. Lembra-se de quando eu te disse que viveria por muito tempo ao teu lado. Essa promessa eu irei cumprir, mas não viva. Irei estar contigo nos teus momentos de alegria e de tristeza. Irei ver-te concretizar os planos que fizemos juntos. Talvez concretize com outra, mas, por favor, não se esqueça que esses planos eram meus e teus, não se esqueça de mim. Chore, mas não a vida toda. E quando superar a minha perda encontre outro alguém. Faça os teus olhos brilharem novamente, eles ficam lindos quando brilham. Aproveite a tua vida e mais uma vez, não se esqueça de mim. Quando sentir um arrepio, não se assuste que sou eu a deitar ao teu lado. Eu te protegerei assim como tu me protegia quando eu estava em seus braços, não se esqueça de mim. Guarde aquela foto que tiramos juntos e olhe para ela sempre quando começar a esquecer os detalhes do meu rosto. Eu te amo, sei que pode ser um pouco de egoísmo meu, mas, espero te ver logo. E mais uma vez, não se esqueça de mim. 

Depois disso o garoto beijou meus lábios gélidos ''Eu também nunca tive coragem de te dizer meu amor, mas, eu também te amei demais.'' Uma lágrima escorreu dos meus olhos. Era como se eu estivesse viva, mas infelizmente era apenas a chuva que começara a cair novamente. Chuva, que se misturava com as lágrimas dos olhos dele, era como se estivesse morto.

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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Não me esqueça

Fazia um tempo que não o via a saudade já tinha começado a fazer chorar. Ficava a imaginar o que ele estava fazendo, onde e com quem. Perguntava-me se seria possível ele também estar pensando em mim enquanto o imaginava sem esquecer nenhum detalhe. Ele tinha prometido que ficaríamos juntos por muito tempo e eu acreditava nisso.



Não saía mais de casa, a vontade me faltava. Tudo que fazia era ficar na cama esperando a semana seguinte quando finalmente nos veríamos novamente. ''Vamos sair?'' ''Não.'' ''Ah, para. Tu não vai sair nunca mais?''  ''Eu vou sair sim, mas hoje eu não quero.'' ''E por que? Vamos.'' ''Não, sério.'' ''Não é tu que diz que temos que aproveitar como se fôssemos morrer amanhã?'' ''Mas...'' (Não me deixou completar a frase) ''Então, vamos.'' Nem me arrumei ao menos, vesti as roupas que estavam em cima da cadeira a dias. Saímos. Quieta durante todo o percurso. Meu amigo tentava me alegrar o tempo todo, até que me cansei de ficar daquele jeito e sorri. Sorria e ria com ele, estava agradecida. A volta para casa foi chuvosa, mas não nos importamos com aquilo. Queríamos limpar a alma. ''A sinaleira esta com defeito.'' ''Não vem nenhum carro.'' ''Dê-me a mão, vamos juntos.'' De mãos dadas atravessamos a rua. Ele um pouco mais a frente me puxava de pressa e por mais forte que tivesse segurando minha mão eu a soltei. Mas não foi porque quis, o carro me levou ao outro lado da rua, soltar a mão dele era preciso. A chuva havia parado de repente, e um fraco sol começava a brilhar. Meu amigo chorava e os bombeiros e familiares estavam a caminho. ''Pare de chorar, por favor.'' ''Tu esta quase a morrer.'' ''Então sorria, não quero morrer vendo o teu sofrimento.'' ''Desculpe-me, mas não consigo sorrir, irei me afastar um pouco.'' Minha mãe já havia chegado e soube que o que ainda me deixava viva era a pressão que o poste e o carro faziam sobre meu corpo. ''Mãe. Eu posso ter pedir algo?'' ''Claro minha amada, peça.'' ''Busque-o. Eu quero o ver pela última vez.'' ''Não filha, eu não vou sair daqui.'' ''Mãe, calma. Eu aguento. Tu não podes me negar isso.'' Minha mãe cedeu e foi. ''Moço, eu aguento por uma hora?'' ''Talvez.'' As pessoas se aglomeravam, os meus 15 minutos de fama estavam sendo dolorosos. O tempo passava devagar. Não conseguia mais... Finalmente ele chegou, os meus olhos brilhavam como se eu ainda estivesse viva. Havia morrido há quase um minuto atrás e pedi para que não fechassem meus olhos. Um pouco antes de desistir pedi para que escrevessem um bilhete que entregaram para o meu garoto. Ele, soluçando e com as lágrimas molhando o papel leu.

Querido. Eu queria que tu soubesses, por isso irei te dizer o que nunca tive coragem. Eu te amo. Ou melhor, amei.  Sim, amei de mais. Obrigada por cada pequeno momento. Sinto muito por não poder te beijar ou te olhar novamente, mas a dor era muito grande. Agora eu estou me sentindo fraca por não ter te esperado. Acho que estarei te olhando lá de cima. Se pudesse sentir minhas pernas, com certeza iria correndo ao teu encontro. Mas acho que elas nem minhas são mais. Lembra-se de quando eu te disse que viveria por muito tempo ao teu lado. Essa promessa eu irei cumprir, mas não viva. Irei estar contigo nos teus momentos de alegria e de tristeza. Irei ver-te concretizar os planos que fizemos juntos. Talvez concretize com outra, mas, por favor, não se esqueça que esses planos eram meus e teus, não se esqueça de mim. Chore, mas não a vida toda. E quando superar a minha perda encontre outro alguém. Faça os teus olhos brilharem novamente, eles ficam lindos quando brilham. Aproveite a tua vida e mais uma vez, não se esqueça de mim. Quando sentir um arrepio, não se assuste que sou eu a deitar ao teu lado. Eu te protegerei assim como tu me protegia quando eu estava em seus braços, não se esqueça de mim. Guarde aquela foto que tiramos juntos e olhe para ela sempre quando começar a esquecer os detalhes do meu rosto. Eu te amo, sei que pode ser um pouco de egoísmo meu, mas, espero te ver logo. E mais uma vez, não se esqueça de mim. 

Depois disso o garoto beijou meus lábios gélidos ''Eu também nunca tive coragem de te dizer meu amor, mas, eu também te amei demais.'' Uma lágrima escorreu dos meus olhos. Era como se eu estivesse viva, mas infelizmente era apenas a chuva que começara a cair novamente. Chuva, que se misturava com as lágrimas dos olhos dele, era como se estivesse morto.

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